quarta-feira, 4 de maio de 2011

A velocidade a que vivemos!_Por Dirk Niepoort


Os tempos mudam, mudam os costumes. Aparecem modas. Desaparecem modas.
Não há duvida que os tempos evoluíram e que hoje sabemos muito mais do que antigamente. Saberes técnicos. Quanto ao saber intuitivo e empírico parece me que estamos a perder muito.
O saber dos “maiores” passava-se de geração em geração. Hoje parece que há um corte grande e somente se respeita o saber técnico.
Faz-me grande confusão a ideia que hoje é que se sabe tudo e que os antigos não faziam ideia do que estavam a fazer.
Quando provo os Vinhos do Porto modernos fico com a sensação que são vinhos bonitos, sobremaduros, cheios de fruta bonita mas sem grande alma nem futuro.
Quando provo vinho velhos fico admirado com a qualidade, a grandeza a frescura e o prazer que estes dão.
Tenho tido algumas oportunidades de beber, apreciar, gozar e perceber grandes Vinhos do Porto.
Alguma coisa os velhos faziam bem.  Não é possível que eles tudo fizessem mal.
Dois grandiosos vinhos provados recentemente:
Cockburn 1927 e Graham 1927.
Que loucura de vinhos. Um Cockburn expressivo, fresco, vibrante. Um vinho que só o cheiro dá um enorme gozo. Um vinho fino com grande estrutura e vivacidade, bons taninos, gulosos e frescos.
Um Graham 1927 com uma cor que mais parecia um 1977. Talvez menos complexo do que o Cockburns, mais novo, menos aromático mas mais preciso e cirúrgico. Na boca , que grande vinho. Majestoso, intenso, e com taninos fantásticos. Tudo nos sítios certos.
Que prazer foi beber estes vinhos. Dá que pensar.
Dá que pensar nestes vinhos modernos que nem sequer prometem virem a ser algo parecido.
Mas tive a sorte de poder conhecer outros grandes vinhos.
Desde um 1918 de um shipper desconhecido a um Croft 1945, mas também Sandeman 1960, um vinho muito mais leve com muita garrafa. Uma beleza de aroma, uma perfeição embora não possa ser considerado um grande vinho. Vinhos desconhecidos mas que grande gozo dão, como também um Martinez 1958 e um Morgan 1948.
Não tenho duvidas que o vinho do porto é um dos grandes vinhos do mundo. Devíamos aprender com os “maiores” e guardar/salvar um saber empírico que “ainda” temos. Muitas vezes menos é mais.
Muito do que sei aprendi com o Sr. José ( a terceira geração da família nogueira na Niepoort) e com o filho Zézé.
Se calhar o que eu devia fazer o mesmo e andar mais devagar. A velocidade a que vivemos é assustadora. Quando aprendia mais, era quando tinha tempo para falar e provar com os "Nogueiras" nas nossas caves. "Perder" tempo a provar amostras antigas de vinhos feitos de certas vinhas. Perceber as diferenças entre as vinhas no tempo. Aprender com a experiência de gerações dos "Nogueiras".
Antigamente a Niepoort vendia todos os anos Vinho do Porto a granel a casas colegas. Perdíamos dinheiro, é certo, mas assim víamos-nos livres de vinhos menos bons, de excedentes, etc.
Em 1990 ninguém queria comprar vinhos a granel a preço algum.
Assim, eu com a minha esperteza saloia sugeri ao Sr. José misturarmos uma pequena percentagem do vinho “doente” no nosso ruby…que ninguém daria conta, ninguém se aperceberia.
O Sr. José achava mal. Lá fui insistindo até que ele me disse:
Sabe Dirk hoje só são 3 % mas o nosso vinho ira ser 3 % pior. No próximo ano a nossa base de qualidade ira ser 100 % mas na verdade ira ter 3 % de vinho doente e assim o Dirk vai me dizer que podemos meter mais 3 % de vinho doente que ninguém irá notar a diferença…se fizermos isso durante alguns anos passaremos a ter um standard na nossa opinião 100 % mas que na verdade será 80 % mais 20 % de vinho doente e o pior é que nós nos habituamos a viver com a doença e achamos normal. E isso não pode acontecer. Por isso Dirk, temos que cortar o mal pela raiz.


Concorda com esta visão de Dirk Nieport? Comente, deixe a sua opinião acerca da forma como tradição e vanguardismo devem ser conjugados.

2 comentários:

  1. è bem verdade o que ele disse mas há tambem quem lhe chame marketing... lol

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  2. Numa altura em que os vinhos nos parecem tão iguais, parece-nos que estas palavras são preciosas (embora não se ignore que está ali um bocadinho de marketing, ao asseverar-se que os Niepoort não levam ´vinho doente`).

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