segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dores Simões 1990_Vinho É Vida



Vinho é vida. Esta é a inscrição que brilha no topo do bonito símbolo que ocupa a parte central do rótulo branco (um rótulo "vintage", nada de confundir com a classificação dos vinhos do Porto), e que convoca de imediato a nossa atenção...Vinho é vida e nós esperávamos que este Dores Simões 1990 tivesse ainda alguma vida dentro .

Foi com enorme expectativa que arrancámos a rolha à garrafa 5508 (de 6700...já não devem restar muitas desta safra, na realidade frustou-se a nossa tentativa de adquirir outra), sendo que o arrancar é aqui utilizado com toda a propriedade, já que a mesma parecia incrustada na garrafa. A rolha já não estava nas melhores condições, ameaçou mesmo desfazer-se (por mais do que uma vez), mas mal a cheirámos vimos que tinha cumprido perfeitamente o seu papel, pois o vinho estava efectivamente em perfeitas condições. No contra-rótulo, longo, anuncia-se um vinho com pouca extracção e sujeito a poucos tratamentos (sem "colagens, filtrações, choques térmicos, etc.").


Feito quase exclusivamente a partir da casta Baga, que prolifera na região, no copo o Dores Simões 1990 (12% vol.)  apresentou-se com tons tijolo, a denunciar a idade (a beleza da idade, dizemos nós).
Quando levado ao nariz ficou logo patente a extrema complexidade de aromas, ferro (da próxima vez que "passarem" a ferro tenham em atenção o cheiro que o ferro emana quando quente...os bebedores distintos já têm motivo para ajudar lá em casa!), terra húmida, fungos, couro (quase imperceptível), alguma fruta (deste noz a uns intensos figos secos), num aroma muito concentrado a lembrar redução culinária(ou seja, aquele processo que consiste em tornar espesso, pela acção do calor, uma mistura líquida por efeito da evaporação)...muito complexo, sempre a evoluir de aroma para aroma. Foi ainda perceptível um bocadinho de acidez volátil, mas nada de grave.

O exame de boca confirmou a extrema complexidade deste vinho da Bairrada, com entrada totalmente composta pela idade, redonda, muito suave, com um meio de boca a dar sequência à entrada, tudo muito fino e elegante, a precipitar-se para um final longo, mas muito ácido (a sensação foi a de que, quando o vinho começava a desaparecer da boca aparecia a acidez, sempre a subir)...a volátil (acidez) também marcou presença. transmitindo uma certa sensação de calor na parte de trás da boca.

Nota de Prova: Este blog não dá notas ("e mai nada!"). Importa assinalar, mais uma vez, que estamos perante um vinho muito complexo e invulgar (e por isso riquíssimo), onde a nota final de extrema acidez (acidez esta que tornou possível a evolução do vinho, e sem a qual, certamente, seria muito improvável tal longevidade) não deixa ninguém indiferente...um vinho que certamente não agradará à maioria, sobretudo aqueles que contam pouco tempo nestas lides, porque não é um vinho fácil...mas é apaixonante. 
É sem dúvida um vinho com muita vida dentro, sendo que pode ainda ser guardado por longos anos (se ainda existirem garrafas), e que exprime o respectivo "terroir" ( sobretudo, os solos calcários e argilosos).

Agradecemos à Maria por nos ter ajudado a decifrar este enorme néctar...

P.S.: O vinho estava ainda melhor no dia seguinte, aromas mais definidos e acidez menos agressiva(e no dia da prova esteve a decantar por mais de 8 horas!).

Preço: 12,83€

2 comentários:

  1. De nariz este vinho deve ter sido um dos que mais me surpreendeu. Não por ter aromas marcados mas sim pela constante evolução/mudança. O primeiro aroma que detectei foi a noz, detectando depois o ferro e a seguir os fungos. O aroma a redução culinária estava definitivamente presente - sendo que eu sentia especiarias, nomeadamente canela.

    Outro post muito bom :-) Venham mais provas!

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  2. Thank`s Maria. Parece que estás na linha da frente, como bebedora distinta mais fiel! O ritmo das provas, lá para o final do mês, vai aumentar!

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